Texto e imagens por Bruno F. Fiorillo

A história natural é o ramo ciência que trata do que os organismos fazem em seus respectivos ambientes. No meio acadêmico, estudos deste tipo geralmente visam descrever algo relacionado à história de vida dos organismos (ex. comportamento, dieta, reprodução).  Esta foi a primeira abordagem científica que despertou meu interesse como pesquisador. Desde então, tenho trabalhado em listas comentadas e notas breves e descritivas sobre anfíbios e répteis.

Durante meus anos trabalhando nesta área da ciência, aprendi que um bom repertório visual é fundamental para dar suporte a este tipo de produção. Tendo isto em vista, elaborei cinco dicas para retratar a história natural, a partir das minhas próprias experiências em campo e de conhecimentos adquiridos em boas fontes literárias.

1. Conte uma história com a sua imagem: como o próprio nome já diz, a história natural trata da descrição de um determinado evento que acontece na natureza. O sujeito que você está fotografando não precisa necessariamente estar em movimento para contar uma história; pelo contrário, só precisa ser ele mesmo. Por exemplo, a foto abaixo conta uma história sem movimento. Se eu não tivesse visto esta fotografia antes, teria imaginado várias razões possíveis por trás dessa imagem, como por exemplo: o que este lagarto fazia antes que eu o encontrasse? Poderia estar procurando por suas presas (insetos e aranhas) entre os arbustos ou apenas ter sido surpreendido enquanto dormia.

Na verdade, eu não fotografei este lagarto no mesmo local onde ele foi encontrado. Esta foto foi tirada em um cenário criado artificialmente. Mas, no fundo, isso não importa: a meta é fazer o melhor com o que se tem e produzir imagens que façam o espectador pensar sobre elas.

2. Elementos secundários: observe cada detalhe que está ao redor do seu sujeito e escolha com cuidado o que será incluído em seu frame. Isso pode tornar sua imagem ótima ou arruiná-la completamente. Por exemplo, a água geralmente está presente quando se está fotografando anfíbios e, por isso, eles também estão úmidos. Você pode usar a superfície da água para compor sua foto, assim como no exemplo abaixo (note o detalhe do reflexo da serpente na água). Por outro lado, a combinação de uso de flash e umidade pode facilmente arruinar sua imagem se as configurações da câmera não forem escolhidas corretamente. Outra situação é quando o sujeito se esconde no substrato. Não tenha medo de tais situações e nem tente manipular quem você está fotografando. Ao invés de tentar alterar a cena, aproveite-a para contar uma história. Ao mostrar, por exemplo, como aquele animal se camufla, você pode se surpreender com o resultado. Se o sujeito estiver muito escondido, seja paciente e observe-o por um tempo antes de tentar qualquer outra abordagem. Lembre-se: paciência é um pré-requisito da boa fotografia.

Caiçaca (Bothrops moojeni) | Estação Ecológica de Santa Bárbara
Equipamento: Nikon D7200 e Nikon 105 mm
Configurações da câmera: 1/200 s, f/11, ISO 250

A foto abaixo mostra um lagarto da espécie Cercosaura olivacea. Eu ajustei a foto deste lagarto segundo a regra dos terços, inserindo o sujeito no terço horizontal inferior. Isto abriu espaço para incorporar mais elementos verticais e de fundo. Além disso, a foto foi tirada na linha de visão do lagarto, o que permite incorporar seu ponto de vista na foto. Eu adicionei areia coletada no mesmo local onde esse lagarto foi encontrado, o que dá noção das características de seu hábitat. O segundo elemento foi uma folha, também encontrada no mesmo local que o lagarto. Este segundo elemento não só reflete o hábitat como também fornece noção de escala. Só a partir desta foto eu consigo deduzir que esta espécie é, ao menos parcialmente, criptozoica (que se abriga entre folhas mortas, caídas), que ela é pequena e, indo um pouco mais longe, eu consigo até imaginar que tipo de presas ela consome.

Cercosaura olivacea | Estação Ecológica de Santa Bárbara
Equipamento: Nikon D7200 e Nikon 105 mm
Configurações da câmera: 1/250 s, f/20, ISO 200

3. Dê preferência ao ponto de vista do sujeito: Em algumas situações, provavelmente você ficará em posições muito desconfortáveis (ex. deitado sobre a lama e possivelmente sendo atacado por formigas), mas o esforço vale a pena na maior parte dos casos. Além de incorporar a perspectiva do sujeito, tal linha de visão abrirá espaço em seu frame para outros elementos, tanto verticalmente quanto em profundidade. As fotos tradicionais, tiradas de cima, geralmente enquadram apenas o sujeito e o solo. Veja a foto abaixo, tirada sob a linha de visão desta rã, da espécie Hylodes phyllodes.

4. Tente não incomodar muito o seu sujeito: ao retratar a história natural, você deseja que o seu objeto aja o mais naturalmente possível. Uma vez que qualquer tipo de interação deve afetar o comportamento natural, você não será capaz de capturar a verdadeira essência da história de vida de seu sujeito. Por exemplo: ao fotografar durante a noite, a baixa luminosidade nos obriga a usar lanternas de led, o que costuma causar grande incômodo nos animais noturnos. Uma possível solução para isso é usar luzes vermelhas ou cobrir a lâmpada com papel celofane vermelho. Uma vez que seu sujeito já foi encontrado, você pode iluminá-lo usando luzes vermelhas em vez da tradicional, assim você estará o mais próximo possível do comportamento natural da espécie e poderá focalizá-la ao mesmo tempo.

5. Conheça o sujeito: faça a lição de casa antes de ir a campo. Os grandes fotógrafos sempre pesquisam muito antes de finalmente apertar o botão do obturador. Se não for possível estar junto de alguém que conheça a região que você está visitando ou com algum especialista nos organismos que você vai fotografar, use o google. Você pode encontrar muitas informações sobre a história natural de milhares de espécies na internet e provavelmente isto fará a diferença na hora de escolher quais elementos irão compor suas fotos. Basta ter cuidado com as fontes de informação: dê preferência a artigos científicos e livros sobre história natural.

Resumindo, para retratar a história natural é importante incluir, em sua composição, elementos que estejam relacionados com a história de vida de seu organismo alvo. Além disso, é importante que a sua imagem conte uma história, tornando-a, mais do que informativa, interessante. Espero que minhas sugestões sejam úteis, tanto para cientistas quanto para fotógrafos amadores que amam retratar a natureza como ela é.

Glossário

  1. Academia: sociedades de caráter científico, como aquelas que se reúnem em universidades ou museus.
  2. Composição: organização dos elementos visuais que se reúnem dentro do frame, ou seja, de tudo que pode ser visto na imagem fotografada.
  3. Hábitat: área ou região habitada por uma determinada espécie de animal, planta ou outro organismo.
  4. Sujeito: no presente texto, é aquele que está sendo fotografado.

Revisão do texto por

B.Sc. Arthur Diesel Abegg. E-mail: arthur_abegg@hotmail.comm. CL
Instituto Butantan, Laboratório Especial de Coleções Zoológicas, São Paulo, SP, Brazil.
Dr. Marcel Huijser. E-mail: marcel_p_huijser@yahoo.com. WS
Western Transportation Institute, Montana State University
M.Sc. Matheus Januario Lopes de Sousa. E-mail: mjlopessousa@gmail.com. CL
Instituto de biociências, Universidade de São Paulo, São Paulo, SP, Brasil.
Rodrigo Albuquerque Leite. E-mail: rodrigoa100@gmail.com. WS
Toelts, Preparatório para o Toefl e Ielts, São Paulo, SP, Brazil.