Texto por Bruno F. Fiorillo
Os lagartos Anoles formam um grupo de lagartos que compreende alguns gêneros e que apresenta características notáveis em termos evolutivos. Além disso, eles podem ser considerados como organismos modelo para algumas das teorias mais modernas dessa área da ciência. Originalmente estão distribuídos por boa parte das Américas do Sul e Central mas algumas espécies tem se tornado invasoras agressivas e ocupando outras áreas como a América do Norte e até mesmo a Ásia. Mas o que faz de um anole, um anole?

Em primeiro lugar, estes são obviamente lagartos, que apresentam entre 30 e 200 mm de comprimento rostro-cloacal, são, em grande parte das espécies, capazes de realizar a autotomia da cauda e podem apresentar coloração acinzentada, marrom ou verde. Mas a algumas características unem as diferentes espécies desse grupo, independentemente a classificação taxonômica.
A barbela é uma estrutura retrátil e colorida localizada logo abaixo da garganta. Ela é movida para cima e para baixo como se fosse uma bandeira em um mastro e a estrutura responsável por essa movimentação é chamada de aparato hioide. Este é um conjunto de pequenas hastes cartilaginosas, derivadas evolutivamente das brânquias dos peixes. Essa estrutura é altamente variável em termos de tamanho e coloração e está sempre presente nos machos. Existem espécies em que as fêmeas também apresentam barbela, mas nesses casos elas são bem menores do que nos machos. Isso não é surpresa já que, entre os variados contextos comportamentais envolvidos no uso da barbela, muitos estão relacionados à corte e defesa do território.

No entanto, ter a barbela não garante que o lagarto pertença realmente ao grupo dos anoles. Espécies do gênero Polychrus também apresentam uma estrutura similar na região da garganta e, apesar de pertencerem a uma família filogicamente próxima, não se trata de anoles de fato. Existem até mesmo espécies distantes como aquelas da família Agamidae que apresentam estruturas muito similares às barbelas dos anoles.

Outra característica peculiar dos anoles é a presença de “almofadas nos subdigitais”. Elas estão situadas nos dedos dos membros anteriores e posteriores e são formadas por um conjunto de escamas expandidas chamadas Lamellae. Por sua vez as Lamellae são cobertas por estruturas microscópicas em formato de pelos que conferem propriedades aderentes ao substrato, as Setae.
A terceira peculiaridade dos anoles é a sua boa visão e elevada percepção de cores. Cada olho tem um campo de visão de 180° que chegam a se sobrepor em 20º. Além disso, os anoles são os únicos além das aves a apresentarem duas fóveas na retina entre os vertebrados. A fóvea é a região ocular de maior concentração de fotorreceptores, contribuindo para a percepção de profundidade e acuidade visual.
A quarta e última característica notável nos anoles está relacionada ao seu ciclo reprodutivo. Ao invés de depositarem vários ovos, os anoles depositam um ovo de cada vez a cada entre 5 e 25 dias durante a estação reprodutiva.
Glossário
1. Autotomia: auto amputação de um membro corporal a fim de evitar predação.
Referências
Losos JB. 2011. Lizards in an evolutionary tree: ecology and adaptive radiation of anoles. University of California Press. [Link]
Losos JB. 2018. Improbable Destinies: Fate, Chance, and the Future of Evolution. Riverhead Books. [Link]
Losos JB. 2014. Where Do Anoles Lay Their Eggs? Disponível em: anoleannals.org/2014/10/26/where-do-anoles-lay-their-eggs/
Prior R. 2020. Some island lizard species evolve to survive hurricanes – the key is bigger toe pads. Disponível em: https://edition.cnn.com/2020/04/27/us/lizards-hurricane-adaptation-scn/index.html
Reptiles of Ecuador. 2021. Brown Anole (Anolis sagrei). Disponível em: https://www.reptilesofecuador.com/anolis_sagrei.html