Parte III
Texto e imagens por Bruno F. Fiorillo
Fora do brejo, encontrei uma rã-cachorro (Physalaemus cuvieri), vocalizando dentro de uma poça artificial, formada pela água acumulada em uma cavidade produzida pela roda de um trator. Em ecossistemas secos como o Cerrado, várias espécies se aproveitam de qualquer tipo de corpo d’água, como esse indivíduo que mal se moveu quando me aproximei. A luz do meu flash que foi refletida pela poça, adicionada à areia branca do fundo, deu um tom esbranquiçado à superfície da água e escondeu parte do corpo da rã e, ao contrário do que muita gente pensa, isso não é um problema. Além disso, algumas bolhas formadas por sua respiração, adicionaram um pouco de personalidade à composição, fazendo parecer que esta rã estava relaxando em sua pequena jacuzzi.
Não posso reclamar de minhas aventuras nos brejos da Estação Ecológica Santa Bárbara, mas eu faria qualquer coisa para ver por um pouco de ação. Cansado de ficar vagando, parei no lugar certo, na hora certa. Enquanto eu observava um louva-a-deus, o pequeno inseto se aproveitou da luz da minha lanterna de cabeça que atraía dezenas de mariposas. Claro que tirei vantagem disso da mesma forma.
Em cinco anos visitando a estação, eu raramente voltava para casa desapontado por não ter encontrado nenhuma serpente. Quase aceitei que, mesmo tendo ficado por mais de dez dias, esta talvez pudesse ser uma dessas vezes. No último dia, uma forte chuva caiu sobre aquele cerrado, e mais uma vez, voltei ao brejo. Despretensiosamente, vasculhei as poças e lá estava ela, a famigerada rainha do Cerrado, a caiçaca (Bothrops moojeni), enrolada na beira de uma poça, em posição de caça. Agora, sim, eu finalmente poderia voltar para casa completamente satisfeito.
Eu tive o privilégio de poder frequentar a Estação Ecológica de Santa Bárbara por mais de cinco anos (desde 2015), e apenas entre aquelas da herpetofauna, esta pequena área protegida do Cerrado (com cerca de 3 mil hectares) abriga mais de 30 espécies de anfíbios, 13 lagartos e ao menos 33 espécies de serpentes. Agora, assim como o restante do bioma, este magnífico remanescente do Cerrado está ameaçado. O governo brasileiro quer extinguir esta e outras áreas protegidas do estado de São Paulo que tanto contribuíram e contribuem para a conservação de diversas espécies, algumas delas, consideradas localmente ameaçadas, como os lagartos bandeira (Norops meridionalis), o lagarto de cauda azul (Micrablepharus atticolus), e o calango Kentropyx paulensis e as serpentes, cobra nariguda (Xenodon nattereri), as falsas-corais, Oxyrhopus rhmbifer e Phalotris lativittatus, e a Jararaquinha do Cerrado (Bothrops itapetiningae).
Revisão do texto por
B.Sc. Arthur Diesel Abegg. E-mail: arthur_abegg@hotmail.com CL
Instituto Butantan, Laboratório Especial de Coleções Zoológicas, São Paulo, SP, Brazil.
Dr. Marcel Huijser. E-mail: marcel_p_huijser@yahoo.com WS
Western Transportation Institute, Montana State University
Rodrigo Albuquerque Leite. Email: rodrigoa100@gmail.com WS
Toelts, Preparatório para o Toefl e Ielts, São Paulo, SP, Brazil.