Texto e imagens por Bruno F. Fiorillo

Sapo-de-chifre (Proceratophrys boiei) | RPPN Trápaga
Equipamento: Nikon D7200 e Micro 105 mm
Configurações da câmera: 1/320 s, f/13, ISO 320

O amplexo representa o ápice da reprodução de anfíbios anuros. Após ser atraída pelo macho, a fêmea é agarrada por ele (geralmente pelas axilas), permanecendo assim até que deposite seus ovos. Além desse ser um dos momentos mais bonitos da história de vida desses animais, o simples fato dos indivíduos estarem juntos dá à imagem uma composição mais interessante do que se estivessem sozinhos.

Porém, se você pesquisar por fotografias de casais de anuros na internet, verá que dificilmente elas são feitas frontalmente. Ao invés disso, na maioria dos casos, você encontrará fotos tiradas lateralmente ou num ângulo de 45° (visto de cima). Isso ocorre porque esses posicionamentos facilitam a expansão da profundidade focal e permitem que uma área relativamente satisfatória da imagem seja focada. Mesmo que você encontre fotos frontais, notará que, geralmente, algum dos indivíduos (macho ou fêmea) fica um pouco desfocado em relação ao outro.

Eu encontrei este amplexo do sapo-de-chifre (Proceratophrys boiei) em uma de minhas caminhadas, nas trilhas da RPPN. Imaginei que a melhor maneira de retratar este evento seria frontalmente, por dois motivos: (1) evidenciar a característica mais chamativa da espécie, os “chifres” (que na verdade se tratam de apêndices palpebrais); e (2) enfatizar o que, em biologia, chamamos de dimorfismo sexual, isto é, uma diferença morfológica entre os sexos (neste caso, em tamanho). Em minha opinião, a melhor fotografia da vida selvagem é aquela que mostra o maior número possível de aspectos da história de vida da espécie que está sendo fotografada. Mas como retratar casais de anuros sem ter que sacrificar a imagem de um de seus integrantes ou ter de me afastar o suficiente para que o foco seja mantido em ambos? A respostas está no método de empilhamento de foco.

O empilhamento de foco é uma técnica de edição de procedimento similar ao das fotos panorâmicas. Em macrofotografia, um dos maiores desafios é manter a uma ampla profundidade de campo, uma vez que, com a aproximação (entre a câmera e o sujeito), a tendência é que haja perda desta propriedade óptica. Embora existam maneiras de lidar com essa perda, sem a necessidade de edição, essas sempre levam à perda de qualidade e nitidez da foto. Através do uso do empilhamento, expande-se a profundidade de foco, sem que haja perda de nitidez. No entanto, apesar dessas vantagens, a aplicação do empilhamento de foco demanda tempo e geralmente requer o uso de equipamento específico (tripé ou slider). Por isso, durante esse tipo de procedimento, a câmera e sujeito sendo a ser fotografado não podem se mover entre as fotos que serão, mais tarde, “empilhadas” por um software.

Fotógrafos profissionais que se utilizam da técnica de empilhamento de foco podem sobrepor mais de 80 fotografias, tiradas durante horas, para sintetizar uma única imagem. No meu caso, esta quantidade foi bem mais modesta (apenas duas).

O casal de sapos-de-chifre estava no chão e, como eu queria que minha foto incorporasse a perspectiva dos sapos, eu não consegui usar meu tripé da forma convencional. Ao invés disso, eu me deitei no chão em frente a eles e apoiei minha lente sobre uma das hastes horizontais do tripé (rente ao chão). Assim, pude obter fotos na perspectiva que eu queria, sem que houvesse muita movimentação por parte da minha câmera (o que impediria o empilhamento das fotos durante o processamento). Veja abaixo as duas imagens que foram processadas.

Fotos usadas para aplicação da técnica de empilhamento de foco.
Acima a fêmea se encontra em foco e abaixo, o macho.

Aplicação no Photoshop

Para realizar a técnica no Photoshop é simples:

  1. Na aba “Arquivo” acesse “Scripts” > “carregar arquivos na pilha”
  2. Suba as imagens que você deseja empilhar
  3. Após subir as imagens, vá em “Editar” > “Alinhar camadas automaticamente”
  4. Em seguida, ainda em “Editar” clique em “Mesclar camadas automaticamente” e “Empilhar imagens”.

Glossário

  1. Anuro: ordem de classificação taxonômica dos anfíbios que inclui apenas aqueles que não apresentam cauda na fase adulta (ex. sapos e pererecas).
  2. Apêndice palpebral: estrutura anatômica localizada na região palpebral
  3. Macrofotografia: campo da fotografia que procura retratar pequenos seres e objetos e seus detalhes. Geralmente são utilizadas lentes especiais, cuja taxa de reprodução é de 1:1, o que quer dizer que a imagem reproduz exatamente o tamanho do objeto ou animal reais.
  4. Profundidade de campo/foco: área da imagem fotografada que permanece em foco, nítida.
  5. Slider: equipamento fotográfico, com diversas formas e funções que estabiliza a câmera e permite sua movimentação ao mesmo tempo.

Revisão do texto por

B.Sc. Arthur Bruck. E-mail: arthur.bruck22@gmail.com. CL
Instituto de Biociências, Departamento de Biodiversidade, Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho”, Rio Claro, SP, Brasil.
M.Sc. Matheus Januario Lopes de Souza. E-mail: mjlopessousa@gmail.com. CL
Instituto de biociências, Universidade de São Paulo, São Paulo, SP, Brasil.
B.Sc. Rafael Mitsuo. E-mail: rafael.mitsuo@gmail.com. IG
Biólogo e fotógrafo da vida selvagem

Referências

Fernley M (2020): Extreme Macro: Photo stacking the macro world of the Amazon Rainforest. Wildlife Photographic 42: 101−109. [Link]